Há pouco tempo, foi retirado um livro que era distribuído nas escolas públicas de São Paulo, porque continha textos de extremo mau gosto, grosseiros, cheios de palavras chulas. De fato, o livro era horroroso e merecia ser retirado. Porém, ontem, mais quatro tiveram o mesmo destino. De acordo com a Secretaria de Educação, as obras tinham conteúdo preconceituoso e eram inadequados à faixa etária dos alunos que os leriam.
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Agora acontece a mesma coisa em Santa Catarina, sob a alegação de alguns trechos de "Aventuras Provisórias", de Cristóvão Tezza, serem inadequados a alunos de ensino médio. A assistente técnica pedagógica de um colégio estadual solicitou a retirada dos livros, alegando a "banalização da relação sexual". Desconheço sua obra, mas se trata de um escritor premiado diversas vezes.
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Para esses críticos literários a favor da moralidade, qual será o significado de "banalização sexual inadequada aos estudantes" ? Quais os parâmetros seguidos para determinar o que é ou não é adequado aos alunos de ensino médio? Ainda mais atualmente, quando até mesmo criancinhas já estão acostumadas a ver cenas de sexo nas novelas de TV e acompanhar a deselegância que caracteriza os Big Brothers, sem que ninguém se preocupe com isso... nem seus próprios pais.
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Quanto ao preconceito, a dúvida é ainda maior. Num país em que a segregação racial, através de cotas e tratamento diferenciado, é considerada como vantajosa, qual seria a opinião dos representantes da Secretaria de Educação que tacharam os quatro livros retirados das escolas de preconceituosos?
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O que a principio poderia ser reconhecido como preocupação, abre precedentes ameaçadores a partir do momento em que o fato se repete e opiniões pessoais tomam a forma de censura.
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Incompreensivel é que não tenham percebido os defeitos atribuídos aos livros com antecedência? E qual o motivo para não terem sido analisados antes de serem não só distribuídos, mas adquiridos com o dinheiro do governo estadual? Pouco caso, falta de competência para analisar o que seria oferecido aos alunos, algum interesse em favorecer sabe-se lá o quê...
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