Este espaço é desaconselhável a menores de 21 anos,
porque a história de nossos políticos
pode causar deficiência moral irreversível.

É a vida de quengas disfarçadas de homens públicos; oportunistas que se aproveitam de tudo e roubam sem punição. Uma gente miúda com pose de autoridade respeitável, que engana o povo e dele debocha; vende a consciência e o respeito por si próprios em troca de dinheiro sujo. A maioria só não vende o corpo porque este, além de apodrecido, tem mais de trinta anos... não de idade, mas de vida pública.


quinta-feira, 17 de julho de 2008

Para quem conheceu a ingenuidade...

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... ou aqueles que gostariam de saber o que é isto.

Texto escrito por Joaquim Ferreira dos Santos num momento de saudade dos velhos tempos
e extrema inspiração.
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O toucinho que estava aqui ***
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Alberto Villas, jornalista da pesada, há dois anos lançou o livro "O mundo acabou" e ficou meses na lista dos mais vendidos. Nada de muito complicado, como é da índole das boas idéias. Villas relacionava coisas desaparecidas, como uma latinha de Neocid, aula de catecismo e a meia-sola. Suspirava saudade enquanto cerzia a meia no ovo de madeira. Acreditava, como eu, que o Flit e o flerte guiavam a Humanidade no fito dos bons propósitos. Hoje, no momento em que eles se foram, ficamos assim. Fritos.
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Um dia fomos tomar uma banana split no prédio da Mesbla, no Passeio, e Alberto sentiu que estava diante do homem certo. Primeiro, como se quisesse dar solenidade ao momento, ele cofiou o bigode com um pente de plástico Flamengo. Depois, puxou uma folha de papel almaço que trazia num dos bolsos da japona e pediu que eu assinasse ali, ao pé do contrato, um compromisso para redigir a orelha do livro. Fiquei lisonjeado, sorri aquele branco de quem passava carvão nos dentes, orgulhoso até o vinco da calça, e fi-lo imediatamente com a minha Parker 61, aquela da flechinha na ponta,, embebida em Super Quink. Pus aos pés o jamegão. Passei o mata-borrão para secar o excesso do azul real lavável e apertamo-nos as mãos, com os pronomes pessoais no caso oblíquo estalando na ponta da língua como se fosse uma argüição oral.
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O livro deu certo, e eu, na modéstia dos leoninos do segundo decanato, achei que tinha funcionado para o projeto como um chaveiro com pé de coelho, um Mug Simonal ou aquele indiozinho que dava cor tropical às transmissões da TV Tupi. Fui regiamente pago com uma blusa Ban Lon vinho, um almanaque dos Sobrinhos do Capitão e um vasilhame de leite CCPL. Não precisava tanto, mas o Alberto é um cara criado com mingau de aveia Quaker para sustentar a musculatura e a oração de Julio Louzada para nortear os princípios da alma. Nunca o acometeu uma espinhela caída de doença ou crime ético de colocar gilette na rabiola da pipa. Um homem digno, desses que não seriam empregados em qualquer organização do Daniel Dantas.

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Eis que agora Alberto, que como todo mundo está saturado de vida real, que como todo mundo não agüenta mais abrir o jornal e ser informado de que de todas as nostalgias apenas a do bicho-papão de fato existe - eis que ele prepara outra edição, com o título de "O mundo acabou de novo". É o "vamos fugir” de 2008. Para o Parque Xangai, no Rio, ou para o circo do Henrique e Arrelia, em São Paulo, mas longe de qualquer bala perdida. Alberto quer descansar um pouco da obrigação profissional de informar dos corruptos, dos canalhas, dessa tralha que nem a lavadora Bendix nem a sua água sanitária Super Globo dão jeito.

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Parece que ele agora vai se dedicar mais a colecionar expressões desaparecidas por carregar em no bojo sentimentos ou objetos já incompreensíveis para os jovens. "Esse filme é um abacaxi", "Ele passou para o científico", "Eu quero uma ligação para Recife", "Eu quero é mocotó".

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No novo livro, Albert suspirará saudoso pelo tempo em que as visitas pediam permissão para ir à casinha ou, diante de moça recém-casada, perguntavam se já tinha encomendado à cegonha. Havia pundonor, enteroviofórmio, emplastro e pedrinha no feijão. Mas não esse medo nauseabundo de ser morto pela PM no meio da rua. Não é escapismo, nada ver com a celebração do paraíso de 1958, mas um jeito de se pegar de novo a idéia da coisa - e, pela divulgação da lembrança, fazer com que o cotidiano das cidades volte a ser um quintal feliz.
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Alguém escreveu outro dia "Saudade da gonorréia" num muro de São Paulo. Alberto, mais elegante, comparando os medos de hoje com os de antanho, certamente grafitaria a nostalgia do medo maior de uma criança: "Saudade da carrocinha de cachorro". O resto era uma civilização envolta na seda azul do papel que envolvia a maçã.

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"O mundo acabou de novo" sai nos próximos meses e é mais uma tentativa bem-humorada de, através da memória de nossas inocências, de nossos pirulitos de chocolate da Kibon, chamar a assistência para que o doutor aplique uma pílula de vida em nossas existências moribundas. É uma tentativa de se chamar a rádiopatrulha para pôr ordem na barafunda deste condomínio e fazer com que se responda, sem mágoa, mas com indignação de um Mario Vianna, à pergunta que não quer calar: cadê o toucinho que estava aqui?

3 comentários:

  1. Olhe,
    que eu não tomei banana split no prédio da Mesbla,
    mas tomei sundae de morango nas Lojas Americanas daRua Direita (onde eu andei, pela prima volta, de escada rolante, chique de doer!)
    Oh, coisas ... Lembrou-se, por acaso do Anil Colman, da Goma Pox e daquela pastinha à base de cravo que se colocava no "buraco" do dente?
    Wakamoto, Wakamoto lhe dá mais disposição ...
    E, sim, eu ainda me recordo do que tomei no café da manhã, hoje.
    Didi Iashin

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  2. A "pastinha" (ou líquido) chamava-se "Um minuto"...

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  3. Ou Cêra do Dr Lustosa...

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