Este espaço é desaconselhável a menores de 21 anos,
porque a história de nossos políticos
pode causar deficiência moral irreversível.

É a vida de quengas disfarçadas de homens públicos; oportunistas que se aproveitam de tudo e roubam sem punição. Uma gente miúda com pose de autoridade respeitável, que engana o povo e dele debocha; vende a consciência e o respeito por si próprios em troca de dinheiro sujo. A maioria só não vende o corpo porque este, além de apodrecido, tem mais de trinta anos... não de idade, mas de vida pública.


terça-feira, 15 de dezembro de 2009

SARNEY E EU, Escrito por Adelécio Freitas (um BMB legítimo).


 Montagem com imagem retirada de
cultura.spaceblog.com.br/81917/A-PREGUICA-Charge/


Algumas semanas atrás recebi um email sobre uma manifestação na frente do Congresso Nacional pedindo “Fora Sarney”, na hora fiquei bastante animado, encaminhei o email para toda a minha lista de contatos e pensei que finalmente as pessoas iriam se indignar e reagir à tanta sujeira.

No dia da manifestação me bateu uma preguiça... após um longo dia de trabalho o cansaço me venceu, e afinal, quem iria sentir a minha falta?

No dia seguinte eu procurei eufórico nos sites de jornalismo sobre a tão falada manifestação que foi toda planejada em comunidades virtuais e bastante divulgada pelo twitter. Para a minha surpresa não existia nenhuma manchete, nem ao menos uma nota de rodapé. Resolvi entrar em uma das comunidades do orkut que organizaram a manifestação, e para a surpresa de todos, apenas cinqüenta pessoas se dispuseram a ir para a frente do Congresso.

Apenas 50 pessoas? Sendo que eu sozinho divulguei para mais de 1000? Que povo mais acomodado, pensei indignado, porque será que eles não foram??....

Não demorou muito para a ficha cair. Eles não foram pelo mesmo motivo que eu não fui. Esperava que “alguém” iria no meu lugar.

Recostei-me na poltrona em frente à televisão e olhei para a janela do meu apartamento, que refletia a minha imagem. Fiquei olhando para mim e para a minha confortável inércia. Foi quando de súbito, eu tive a arrebatadora visão daquilo que sempre procurei e nunca encontrei, o meu verdadeiro papel na sociedade.

“Que bunda- mole!!!”.


Finalmente, depois de tantos anos de crise existencial, pude perceber que eu era uma peça importante na sociedade, um legítimo Bunda-mole brasiliense (ou BMB).

Existem bunda- moles municipais e estaduais, mas eu tenho orgulho de dizer que sou um bunda-mole federal!! Nas minhas viagens de férias sempre algum engraçadinho vinha falar: “De Brasília né....já tem conta na Suíça?”. Eu ficava indignado, falando que eu era um funcionário público concursado, que pagava os meus impostos, enquanto o povo que roubava vinha de fora e blá blá blá. Mas agora eu vejo com nitidez que eu tenho um papel importante nesse cenário. Eu como um legítimo BMB ajudei a criar esta barreira de proteção que mantém os verdadeiros FDP livres para fazerem o que bem entenderem.

Eu acho que as coisas estão bem do jeito que estão. Tenho dinheiro todo mês para pagar a prestação do meu carro 1.0 e do meu apartamento de dois quartos, freqüento uma academia para queimar o meu excesso de ociosidade, tenho meu smart phone comprado na feira do Paraguai, e no final do ano ainda vou ficar um mês em uma casa de praia alugada junto com a minha família para a incrível experiência de assarmos como batatas na areia... Mais BMB impossível!!

Nas sextas-feiras, eu me sento com os meus amigos em um barzinho e depois do terceiro copo de cerveja soltamos toda a nossa indignação contra a patifaria que rola solta em Brasília, cada um conta um caso de um amigo próximo que enriqueceu da noite para o dia às custas do dinheiro público (o difícil é disfarçar aquela pontinha de admiração pelo “ixperto”). Depois traçamos os planos para endireitar o país. Planos que vão embora pelo ralo do mictório antes de pagar a conta. BMB de carteirinha!!

Os anos passam e as conversas vão mudando: PC Farias, anões do orçamento, precatórios, privatizações, dólar na cueca, mensalão, sanguessugas, vampiros, Lulinha Gamecorp, Daniel Dantas, o dono do castelo, Petrobrás, e agora a cereja do bolo, ele, o único, o inigualável Sarney!! Sarney é como um ícone do atraso nacional (clientelismo, fisiologismo, nepotismo, coronelismo, apropriação da máquina pública, desvio de verbas públicas etc), mas o que seria do Sarney sem a legitimidade dos BMB´s? O que seria da ilha da fantasia, dos cabides de emprego, dos lobistas, do QI (quem indicou), dos cargos de confiança, dos funcionários fantasmas, dos atos secretos sem a nossa apática presença?

Imaginem se no nosso lugar estivessem aqueles sul-coreanos malucos que iam para a rua protestar partindo pra cima da polícia, ou aqueles jovens em Seattle que furavam um forte esquema de segurança da OMC para protestarem contra a globalização.

O BMB precisa ter o seu papel reconhecido, somos nós que deixamos tudo correr frouxo, somos nós que damos uma cara de democracia a este coronelismo em que vivemos. O nosso poder aquisitivo acima da média nacional protege o Congresso e os palácios da miséria e da violência que fervilham em nosso entorno.

Bunda-moles: Vamos exigir os nossos direitos!! Precisamos finalmente mostrar a nossa cara. Nunca antes na história deste país o bundamolismo foi tão grande. Seja ele de centro, de esquerda ou de direita. Bundamolismo no movimento estudantil chapa-branca, nos sindicatos que só vão para a frente do Congresso para pedir aumento e nos artistas que se acomodaram no conforto dos patrocínios oficiais.

Vamos exigir que se crie em Brasília o museu do bundamolismo nacional na esplanada dos ministérios, uma enorme bunda branca de concreto, que irá combinar muito bem com a arquitetura de Niemeyer.

Assistimos de nossas poltronas o Brasil tomar o rumo da mediocridade, sem um projeto à altura do seu papel de grande potência ambiental do planeta, que pode liderar a nova economia limpa e inclusiva que irá gerar milhões de empregos. Mas que faz o contrário, age como a eterna colônia de exportação de matéria-primas, fazendo vista grossa para o colosso chinês que irá nos engolir com a sua máquina movida à destruição ambiental e desrespeito aos direitos humanos, para criar uma efêmera ilusão de prosperidade às custas de nossa biodiversidade e da nossa água doce (estes sim os nossos bens mais valiosos).

A bundamolização é muito mais eficaz do que o autoritarismo, ela pode ser eletrônica, através de novelas, videocassetadas, big brotheres e cultos picaretas. Pode ser química, com cerveja, maconha ou anti-depressivos. E também pode ser ideológica, com receitas milagrosas, e debates calorosos que sempre desaparecem em um clicar de mouse. Vivemos em uma sociedade anestesiada e chapada, sem rumo, imersa em ilusões baratas.

O bundamolismo nos une, não segrega ninguém, é a democracia verdadeira, que brilha por debaixo de uma crosta de hipocrisia e ignorância. E como toda ideologia que se preze, nós temos o nosso avatar, o nosso guru. Aquele que nos trás para a realidade e mostra quem realmente somos, revela o nosso eu profundo, a nossa essência.

Obrigado Sarney, só você para tirar as minhas dúvidas e me mostrar o mundo real por trás das ilusões. Sarney, nós somos duas faces da mesma moeda. Somos Yin e Yang. Nós somos os pilares deste país, um não existiria sem o outro. A sua cara de pau só existe porque do outro lado está a minha babaquice.

Bunda-moles de todo o país uni-vos!!

Vamos celebrar a nossa mediocridade, vamos sair às ruas gritando: Viva Sarney!! Viva Collor!! Viva Maluf!! Viva Roriz!! Viva Gim Argello!! Viva Renan Calheiros!! Viva Romero Jucá!!Viva o FHC!! Viva a República das bananas do Brasil!!!

Mas isso é pedir demais para um bunda-mole, vou voltar para a minha poltrona porque o jornal nacional já vai começar.



2 comentários:

  1. É justo e compreensível que em dias como estes que todos temos enfrentado, a indignação tome conta de nossos corações e, principalmente, de nossos atos e palavras. Mas não podemos nos deixar levar única e exclusivamente por esse sentimento. Não podemos fechar os olhos para o bem tem sido feito paralelo a tanto mal. O momento é triste, sem dúvida alguma. O cenário político brasileiro nunca esteve tão pobre. Mas existem ainda alguns poucos e bons que merecem não apenas nosso voto, mas nosso direito e admiração. O senador Gim Argello é um deles. E não é preciso muito para chegar a essa conclusão.

    Desde que entrou no senado, tem trabalhado incessantemente em prol de projetos que beneficiam a população do Distrito Federal e do entorno. Sem falar dos planos de interesse nacional, sempre colocados em pauta pelo senador Gim. Muita coisa foi dita no passado, mas nada foi provado. Sou um homem politizado e tenho plena convicção de que infelizmente nosso judiciário também vive momentos turbulentos. Mas enquanto a justiça não nos dá respostas, no mínimo, concretas, cabe a nós mesmos fazer o julgamento adequado. As únicas provas que temos em mãos são os fatos. Os fatos que nossos olhos podem ver.

    E o que tenho visto é isso: muito trabalho. Projetos e mais projetos aprovados, projetos que me beneficiam como estudante e cidadão. De questões culturais à salariais, nos mais diversos campos possíveis. Trabalho, trabalho e mais trabalho. E até que provem o contrário, pessoal, não correto, não acho justo maldizer os poucos e bons com quem ainda podemos contar. Há homens escondendo dinheiro em cuecas e meias, deitando e rolando em cima dos nossos impostos.
    E isso eu posso ver e (devo) julgar.

    Nos levantemos do sofá, mais que um direito, é obrigação de todos nós. O tempo agora é unir forças, pessoal. Mas que não seja apenas para lutar contra o mal. Também é necessário dar as mãos para brigar em favor do bem, do que há de melhor em nossas casas, em nossos bairros. Em nossas cidades e estados. Em nosso país. Em nós mesmos. Vivemos dias de luto, isso é fato. Mas que esse luto possa nos fortalecer, e não (apenas) nos desanimar.

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  2. Marcos,

    Você faz parte daqueles que ainda não perderam as esperanças. Compreensível, porque no meio de tanta patifaria, quando vemos algum político fazer algo de bom ele passa a ser visto com respeito. E muitas vezes o comportamento supostamente elogiável pode ser posto em dúvida, como no caso de Gim Argello (PTB), como vemos abaixo.

    Qualquer projeto apresentado por políticos não significa uma 'boa ação'. É obrigação deles, não um favor aos eleitores que bancam todas as despesas do país.

    Além da responsabilidade que SERIA inerente ao cargo, nós lhes
    pagamos quantias absurdas para o deveria ser feito apenas por taxa mínima a quem estivesse disposto a trabalhar pelo social e pelo país.

    No caso de Gim Argello (PTB), por exemplo, podemos verificar casos em que já esteve envolvido (em textos e em vídeos):

    1 - STF abre inquérito contra senador Gim Argello (PTB)

    2 - O Supremo Tribunal Federal abriu inquérito para investigar o senador Gim Argello, suspeito de corrupção. Ele é suspeito de quatro crimes.
    http://www.youtube.com/watch?v=t62SJRPZVJ0

    3 - Gim Argello - PTB-DF foi um dos defensores de Sarney, que ajudou a abslver um tão conhecido meliante.
    http://www.youtube.com/watch?v=GGx-SsLGA0g

    Vamos, então, supor que as dúvidas contra o senador jamais sejam provadas. Mas o simples fato de colaborar com a absolvição de José Sarney já o torna um ser INELEGÍVEL ad eternum.

    Perdão pela realidade, Marcos, mas talvez você ainda seja muito jovem ou não tenha noção de quem é o senador que você defende.

    Um abraço, Ju

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