Este espaço é desaconselhável a menores de 21 anos,
porque a história de nossos políticos
pode causar deficiência moral irreversível.

É a vida de quengas disfarçadas de homens públicos; oportunistas que se aproveitam de tudo e roubam sem punição. Uma gente miúda com pose de autoridade respeitável, que engana o povo e dele debocha; vende a consciência e o respeito por si próprios em troca de dinheiro sujo. A maioria só não vende o corpo porque este, além de apodrecido, tem mais de trinta anos... não de idade, mas de vida pública.


domingo, 23 de janeiro de 2011

Guilherme Fiúza / Nem todos estão na chuva


Ontem saiu ótimo artigo, transcrito abaixo, de Guilherme Fiúza - " A presidente na chuva", sobre a credibilidade do brasileiro. Porém tal credibilidade pode ser vista de várias formas, como otimismo, esperança, ingenuidade ou ignorância, dependendo do caso. Sem contar que é uma capacidade essencial a um povo acomodado como o nosso, pois no dia em que perder a credibilidade será obrigado a fazer alguma coisa. E é bem mais cômodo esperar que façam por nós.
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Em um trecho, Guilherme Fiúza diz que "até os críticos de Luiz Inácio da Silva resolveram enxergar um novo tempo com a ascensão da 'presidenta' ". Aí se incluem os críticos à própria Dilma, como no meu caso. Portanto é uma carapuça que se encaixaria na minha cabeça como feita sob medida.

Mas o autor do texto esquece que há dois tipos de gente que se interessa, de fato, por política: os "atuantes", aqueles tendenciosos que se limitam a defender suas preferências políticas aos gritos, ao ponto de jurar que as piores tramóias são feitas pelo bem da Nação; e aqueles quem enxergam os erros sejam de que partido for, embora dentro de sua ótica.


Sendo assim, da mesma forma que a Dora (perdão por citá-la mais uma vez), também não baixei minha guarda que estaria de sentinela mesmo que o eleito fosse qualquer outro candidato. Mas não posso deixar de admitir, sem medo de parecer contraditória, que a nova presidente vem mostrando um comportamento de acordo com o cargo - o que não víamos há oito longos anos - e as atitudes que tem usado para  'enquadrar ' pessoal do seu governo.  Caso tudo isso não passe de um arranjo partidário, perfeitamente possível num país onde políticos venderiam a própria mãe (*), veremos depois.

(*) O trecho  "num país onde políticos
venderiam a própria mãe, é apenas
um simbolismo, afinal não sabemos
se o preço seria vantajoso.
  

A presidente na chuva
- Guilherme Fiúza -

"O brasileiro é, antes de tudo, um crédulo. Deem-lhe um pretexto para ter fé em alguma coisa, e ele se lambuza de esperança. Não poderia ser diferente com a sucessão presidencial. Até os críticos de Luiz Inácio da Silva resolveram enxergar um novo tempo com a ascensão da "presidenta".  É como se o país saltasse do último capítulo de Sílvio de Abreu para o primeiro de Gilberto Braga.  Hora de acreditar em outro enredo.

E eis que a grande vedete desse tal novo tempo é o silêncio de Dilma Rousseff. Mesmo os que se opunham ao truque eleitoral do PT, em que Luiz Inácio tirava sua coelha da cartola e lhe dava corda para governar, estão vendo mudança em tudo. Se Lula falava demais, o silêncio de Dilma significa austeridade e trabalho. O Brasil acordou em 2011 decidido a acreditar na "especialista em gerência". Assim é, se lhe parece. Somos 190 milhões de Gilbertos Bragas.


Na vida real, porém, continua valendo o velho ditado (ou a melhor versão dele): de onde menos se espera é que não vem nada mesmo. Como se viu na campanha eleitoral, e antes dela, a especialista em gerência nem sempre conseguia completar um raciocínio. Tropeçava em números, se confundia com percentuais, torturava conceitos - incidentes não muito típicos de especialistas em gerência.


Para quem não esperava nada de Dilma Rousseff, ela correspondeu plenamente como presidente eleita. Sumiu de cena. Não deu uma palavra nem sobre a guerra nos morros do Rio. E, quando seu governo começou, a presidente continuou firme em seu exílio existencial. Nunca antes na história deste país um mandato presidencial começara assim, com cara de feriado.


Nenhuma medida importante, nenhuma reforma estrutural, nada além de tiradas como o "PAC da miséria", para entreter a imprensa. A julgar pelas manchetes, o futuro inaugurado por Dilma era um lugar onde o PT e o PMDB disputam o balcão estatal, enquanto a vida nacional faz figuração ao fundo. Aí vieram as chuvas.


A tragédia na Região Serrana do Rio veio atrapalhar o script dos novos tempos. A presidente não poderia mais ficar governando em off, regendo a partilha fisiológica do Estado detrás do seu silêncio mitológico. Dilma apareceu. Deu um pulo nas cidades devastadas e, antes de retornar ao exílio, falou aos brasileiros numa entrevista coletiva. Foram 40 minutos inesquecíveis.


A especialista em gerência rompeu seu silêncio para dizer que "o Rio vive um momento muito forte". O país já estava com saudades da precisão de suas mensagens. Mas ela não parou por aí. Declarou que a ocupação de áreas de risco no Brasil é regra, não exceção. Esta foi a afirmação destacada nas manchetes - para se ter uma ideia da densidade do discurso da presidente no meio da catástrofe.


Ao falar em moradias de risco, Dilma fez uma inflexão importante: "Agora vou defender o presidente Lula." De fato, em meio ao flagelo das enchentes, com suas centenas de mortos, feridos e desabrigados, era urgente defender o presidente Lula. A presidente passou então a elogiar as maravilhas do programa Minha Casa, Minha Vida, idealizado por seu padrinho, como uma espécie de pílula do dia seguinte para os desabamentos: "O Minha Casa, Minha Vida não investe em área de risco. Nós não incentivamos a população a construir em área de risco."


Uma informação providencial para uma situação de emergência. Se alguém confundiu esse discurso com comício populista, cumpre esclarecer ao mau entendedor: isso é pura sagacidade gerencial.


Dilma respondeu também sobre o problema da lentidão na liberação de verbas para as áreas devastadas. Explicou que nenhum gestor público está autorizado a não prestar contas de seus gastos. É realmente fundamental, numa hora dessas, a presidente da República informar que está proibido o desvio de verbas federais. Coisa de Primeiro Mundo.


Completando a ação implacável do novo governo, quatro ministros de Estado subiram ao palco da tragédia para falar ao país. Liderados pelo irrevogável Aloizio Mercadante, ministro de Ciência e Tecnologia, eles leram uma lista de boas intenções extraídas de um seminário meteorológico de um ano atrás. Segundo Mercadante, daqui a quatro anos um sistema nacional de prevenção de catástrofes estará pronto, irrevogavelmente.  E, daqui a dez anos, uns 20% dos que morreram agora não morrerão mais (*). Um papo solto, sem stress, para tranquilizar o pessoal da serra.


Com tanta eficiência, essa junta liderada por Mercadante poderia dar uma força ao ministro da Educação na tragédia do Enem - onde o número de vítimas também não para de crescer. Se não for possível, ao menos os estudantes desabrigados e os sem-universidade poderão se orgulhar de ser governados por uma especialista em gerência.

Ao resto dos brasileiros, especialmente depois do pronunciamento histórico da presidente durante a enxurrada, o melhor é continuar louvando o seu silêncio.


Na vida real, vale o ditado: de onde menos espera é que não vem nada mesmo.



Alteração da charge










3 comentários:

  1. Um "marco regulatório" dessa auto-afirmação de dona deelma será o doutor Haddad. Se ela demití-lo, no meu conceito sobre de 0 prá 1 na hora.

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  2. Ih!!!!!!!!!

    Não sei, não. Acho que nenhum dois entrega!

    Um abração, Ju

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  3. Não é sobre a 'credibilidade' do brasileiro, é sobre a sua credulidade. Credibilidade é outra coisa, é a confiança que se adquire e se transmite aos outros...

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