REVISTA DO CLUBE MILITAR Nº 440 – MARÇO-ABRIL 2011
Com os Olhos no Futuro - 31 de Março de 1964
“É necessário, no plano de ação, regular todos os pormenores. Cada oficial suspeito à revolução deverá ter um agente responsável pela sua eliminação. Essa eliminação terá que ser executada na hora prescrita, sob pena de morte do responsável por ela. Quanto aos sargentos, é preciso fazer a ficha de todos os que puderem prejudicar o movimento, pelo seu prestígio na tropa, pela sua inteligência e coragem, para que sejam incluídos no plano de eliminação.” - Plano Revolucionário do Partido Comunista, apreendido pela PMMG
Avistei-me com alguns Ministros e duas vezes com San Tiago Dantas, cujas ideias e opiniões eu não partilhava, mas em quem via um possível elemento estabilizador e moderador dos desvarios populistas de Jango.
Mas já era tarde. San Tiago estava doente e Jango irremediavelmente comprometido com uma linha política que o levaria fatalmente a um desastre total. (a mesma linha que 'impera' no país atualmente)
Ao viajar, deixei no Brasil um ambiente tenso e prenunciador de graves acontecimentos.
Lavrava um surdo, mas profundo desassossego entre os oficiais das três Forças Armadas, preocupados com o discurso e os gestos cada vez mais rasgadamente populistas do Presidente da República, e vendo a crescente influência junto a ele de elementos comunistas ou pró-comunistas entre os seus aliados políticos e validos do círculo íntimo palaciano. Desde Miguel Arraes em Pernambuco com suas “Ligas Camponesas”, até Leonel Brizola no Rio Grande do Sul com seus “Grupo dos Onze” havia um forte cheiro a filocomunismo. Junto ao Presidente, desde o loquaz e trepidante Secretário da Presidência até o lacônico e sóbrio Secretário de Imprensa, tudo era mais ou menos matizado de vermelho, vermelho claro ou vermelho carregado.
O Exército havia guardado uma terrível recordação dos sangrentos acontecimentos de novembro de 1935 em Natal, no Recife e no Rio de Janeiro, quando unidades amotinadas sob o signo do comunismo haviam dominado as duas primeiras cidades e por pouco não haviam se apoderado da terceira, e com esta do próprio Governo.
Dali ficara o Exército marcado por um horror quase obsessivo ao comunismo e a todos os seus agentes, partidários e simpatizantes. Cada ano, no dia 27 de novembro, na cerimônia tradicional do culto aos mortos de 1935 no Cemitério de S. João Batista e em todas as guarnições do país era reacendida a chama sagrada, renovado o compromisso de barrar o caminho ao comunismo no Brasil. (desde os primórdios do sindicalista L.I., vem crescendo a idéia de aceitar que se mate ou mutile "com a mão esquerda", falsamente em prol do povo).
A Marinha tinha as suas próprias e terríveis recordações. No Exército, todos os levantes haviam ocorrido por iniciativa e ao mando de oficiais que arrastavam os seus subordinados. A Marinha tinha o seu pesadelo, e esse pesadelo chamava-se João Cândido: um motim chefiado por um simples foguista; o São Paulo, orgulho da Marinha, e capitânia da Esquadra, transformado em um “encouraçado Potemkim” sul-americano, em poder da marujada amotinada, oficiais assassinados ou aprisionados, marinheiros e foguistas donos do sacrossanto passadiço.
E justamente o Governo Goulart buscava o apoio de sargentos e praças, insuflava a formação de Clubes de sargentos e de marinheiros. No Exército nem mesmo o “Marechal do Povo”, o General Lott, no auge de suas ambições presidenciais, ousara dar as mãos à subversão da disciplina entre as praças. Agora, porém, na Marinha surgira um Almirante “de esquerda”, para cobrir com o seu nome a formação de agremiações políticas de praças. A Marinha olhava tudo isso, e atrás do Almirante Aragão, atrás de Jango, via o fantasma de João Cândido.
A Marinha tem um grande senso da História. Não só de nossa História, mas da História das outras Nações em tudo o que se relaciona com o Poder Naval. Em 1963, sob o agitado tribunato esquerdista de Jango, ela lembrava-se de que foi um tiro de canhão do cruzador Aurora surto frente a São Petesburgo que deu em 1917 o sinal para a Revolução de Outubro que abriu o caminho para a “ditadura do proletariado” (ditadura é ditadura, seja de esquerda ou de direita) e o regime dos Soviets. Ela tinha também presente o que foi a rebelião dos marinheiros da Frota em Kiel, que iniciou em 1918 na Alemanha a revolução spartakista dos “soviets de operários e soldados”, com sua sequela de humilhações e assassinatos de oficiais das forças de terra e mar.
Marinha, Exército e Aeronáutica eram unânimes na desconfiança com que viam a politização de associações de sargentos e a participação (o mesmo tipo de apoio que, hoje, muitos consideram quase obrigatório ou sentem vergonha de admitir não apoiar)de praças em atos públicos de apoio ao populismo janguista e sentiam que a Nação, em suas forças vivas e sãs, partilhava os receios da oficialidade. As classes produtoras, o empresariado de vários setores, haviam mesmo organizado um Instituto de estudos, atuando, na realidade, para angariar recursos e articular esforços para a defesa das Instituições e da ordem social contra um eventual golpe de Estado. Para Secretário Executivo desse Instituto haviam contratado um militar da reserva, homem notável, profundo pensador e analista político: o General Golbery do Couto e Silva, que seria por perto de vinte anos o Chefe do Serviço Nacional de Informações, o SNI, sob os Governos da Revolução.
Cada vez que fui ao Brasil durante o período janguista, nunca deixei de trocar impressões com amigos, tanto das Forças Armadas como do meio civil, comprometidos com a causa da resistência à marcha do esquerdismo (é bom lembrar que o país é de todos os brasileiros, sejam pobre ou ricos, e que não faz sentido colocar uma parte da população contra a outra - quem não tem condições de sustentar filhos, se mostre responsável e não os tenha). Na Marinha o meu interlocutor principal era o Contra-Almirante Augusto Alcântara, Chefe da Segunda Seção do Estado- Maior da Armada e depois Comandante do Centro de Instrução Almirante Wandenfolk, na ilha das Enxadas, onde fui mais de uma vez procurá-lo para trocar ideias. No Exército eu tinha inúmeros amigos e ex-camaradas com quem conversava largamente, mas o principal interlocutor era o então General-de-Brigada Jurandir Bizarria Mamede, Comandante da Escola de Estado-Maior do Exército, que fora, ainda Coronel, o orador da cerimônia de 27 de novembro, no Cemitério de São João Batista, da qual SanTiago Dantas, Ministro do Exterior de Jango e tido por esquerdista, fora enxotado pela assistência indignada com a sua presença. Ou seja, em uma palavra e com todas as letras, eu conspirava contra o Governo, e a vitória da Revolução de 31 de março de 1964 representou a coroação de minhas mais caras esperanças.
Enquanto isso, os elementos esquerdistas que cercavam, adulavam, e crescentemente dominavam João Goulart não tinham a menor ideia do que os esperava, seguros que se achavam graças ao apoio do Presidente. Na noite da recepção no Palácio do Planalto em homenagem ao Marechal Tito, aproximou-se de mim um Deputado de extrema-esquerda, que fora meu condiscípulo nos bancos do primeiro ano primário — época na qual ele ainda não professava idéias subversivas — e disse-me, em tom de brincadeira, que ele e os seus correligionários já estavam no Governo, e em breve estariam no poder; que então, não podendo cogitar de converter-me, teriam que fuzilar-me. Respondi, no mesmo tom, que nós, os antiesquerdistas, é que íamos correr com eles, “a grito e a ponta de laço”. Riu muito; mas riria menos dali a seis meses, quando teve que procurar refúgio às pressas em país estrangeiro, com medo de ser preso.
O curioso é que os janguistas, filocomunistas, et caterva, julgavam-se seguros, não só do apoio do Presidente da República, mas também dos Estados Unidos da América. Ao contrário da lenda espalhada pelos vencidos de 31 de março, a Revolução Libertadora não teve o apoio dos Estados Unidos, nem sequer suas simpatias. Muito pelo contrário. Chegando eu ao Rio de Janeiro pouco depois da viagem de João Goulart ao México, recebi um recado do Embaixador Lincoln Gordon, que eu conhecera em Chicago até onde ele acompanhara desde Washington o Presidente brasileiro, pedindo que fosse vê-lo. Fui.
O Embaixador norte-americano perguntou-me o que eu pensava da situação política no Brasil. Não lhe ocultei a apreensão que me causava a crescente influência das esquerdas no Governo, e a agitação que promoviam entre as massas populares. Lincoln Gordon, que me ouvia com um sorriso irônico, tirando baforadas do seu inseparável cachimbo, respondeu-me com ar zombeteiro que não partilhava as minhas apreensões, tanto assim que o seu Governo resolvera apoiar no Brasil the Democratic Left. Observei-lhe, irônico por minha vez, que ele estava desde muito pouco tempo no Brasil; ficando um pouco mais tempo, descobriria que no Brasil a esquerda não era democrática, nem os democratas estavam à esquerda. Isso concluiu a nossa palestra, e nunca mais interessou-me encontrar aquele Professor universitário lambuzado das convicções “liberais” no mau sentido da palavra, que era o sentido dos meios universitários americanos, isto é, da tolerância com as idéias inimigas da Democracia liberal autêntica No que ele, aliás, comungava com o bestalhão do seu Presidente (no Brasil, atualmente, pofessores de História, Ciências Sociais, por exemplo, costumam defender um país dominado por ignorantes por serem considerados 'do povo' - e ainda se acham os donos da verdade).
Tive a satisfação de receber mais uma vez no México o ex-Presidente Juscelino Kubitschek. O Presidente estava apreensivo com a situação no Brasil e lamentava os desmandos de Jango, que ameaçavam por em risco os resultados do surto de desenvolvimento e de prosperidade imprimido ao país na “era JK”. Não acreditava muito, porém, em uma intervenção militar. Eu não só acreditava, mas sabia que ela se produziria no momento psicológico, que seria quando ela fosse desejada pela Nação. Em dado momento parecera-me que aquela intervenção estava tardando muito; mas fui tranquilizado por uma frase de um amigo e ex-camarada meu de Regimento: “O Exército”, disse-me, "é tão forte que com um piparote pode derrubar esse Governo que aí está. Precisamos, porém, esperar que correntes significativas da opinião pública reclamem a nossa ação." O que foi exatamente o que ocorreu no 31 de março.
No dia 31 de março, pois, eclodiu no Brasil a Revolução. Recebi a notícia com imensa alegria... No dia 1° de abril Jango era obrigado a deixar o Rio por Brasília, e no mesmo dia a deixar Brasília para refugiar-se em Porto Alegre. Já estava selado o seu destino, tanto assim que o Congresso Nacional declarou no mesmo dia a vacância do Poder e elegeu Presidente da República, interinamente, o mesmo Ranieri Mazini, a quem já coubera tomar o lugar de Jânio Quadros demissionário. No dia 3 de abril a situação ficava totalmente definida com a fuga de João Goulart para o Uruguai, onde solicitou e obteve asilo político.
NR: o texto acima foi extraído do livro "O Mundo em que vivi" de autoria do Embaixador Manoel Pio Corrêa. É um relato autobiográfico que retrata boa parte da história contemporânea brasileira e mundial.
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Após anos de ditadura militar, esquerdistas vem se aproveitando da antipatia criada contra eles para se espalhar, na tentativa evidente de fazer o que eles faziam antes: dominar o país. Com uma diferença: se aproveitando da miséria para conseguir apoio. Cabe a nós insistir com pessoas menos esclarecidas, mesmo sabendo que elas foram tão bem tapeadas que olham para uma abóbora e vêm uma linda carruagem.
É possível enganar a muitos durante muito tempo mas é impossível enganar a todos o tempo todo? Sempre é possível enganar enquanto existe um trouxa que gosta de ser enganado. Agora, o pior é quando o enganador é tão veemente, que crê em suas próprias mentiras.
Pergunta e resposta retiradas do yahoo: http://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20100702072040AAa85uZ
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