Chefete (e não líder)
Wellington Cardoso Ramos - escrito em 27/12/2009
Alguns chefes parecem encarnar o diabo nas
suas relações com os subordinados. Julgam-se chefes para sempre (no mínimo o
medo do dia seguinte deveria ser sempre motivo de reflexão sobre os nossos
comportamentos) e agem como feitores. Sentem-se no direito, não de comandar.
Simplesmente mandam.
São pessoas que vivem cada dia como se
dependessem do sofrimento alheio para atenuar suas próprias frustrações íntimas.
Frustrações que não conseguem admitir nem ao conversarem com o espelho. Gente de
peculiar capacidade para conquistar inimigos. E elas estão por aí, aos
montes.
Mas, se destacam mesmo é no serviço
público, que parece aflorar em algumas delas o sentimento de superioridade
intelectual absoluta, ainda que, profissionalmente, só tenham a aprender.
Alguém, sabiamente, disse que, “se queres
conhecer uma pessoa, dê-lhe poder”. Nada mais verdadeiro. Os poderes nivelam as
pessoas em se tratando da prática do mal: seja ele econômico ou político. Ah!
Como o poder mexe com as pessoas!
Subordinados ou ilustres desconhecidos de
ontem se revelam com o poder lhes proporcionado. Parecem outras pessoas. Põem
pra fora seus instintos covardemente adormecidos quando não têm o poder de
mando.
Há os que aproveitam o poder de mando para
tirar dos comandados, em benefício do interesse coletivo ou da empresa, o que
cada um deles tem de melhor. Maltratado, o homem (e a mulher) também empaca. O
comandado estimulado, valorizado e respeitado rende, às vezes, até mais do que
pode. Talvez seja por isso que em um time de futebol, por exemplo, determinado
atleta, mesmo sem ser craque, rende mais que em outro. A diferença está no
comando.
Na reta final do Campeonato Brasileiro de
2009, o Fluminense mostrou o que um grupo sem grandes profissionais, mas
motivado (e isso não é apenas ter salários recebidos em dia), é capaz de fazer.
Até o impossível.
Tem chefe que esculhamba o subordinado na
presença de outras pessoas, mas pede desculpas quando estão a sós, baixinho,
como que querendo esconder-se de si mesmo. Existe aquele que, para aumentar a
agonia do comandado esculhambado, ainda diz que vai levar o assunto da discórdia
unilateral ao seu próprio superior ou chefe máximo, com quem, provavelmente, nem
tenha o trânsito que faz parecer ter. Aliás, tem chefe que adora se dizer da
cozinha de quem manda também nele. “Somos assim, ó!” – costuma dizer para
“aumentar” o seu poder aos olhos do subordinado.
Quanta mediocridade!
Por aí afora existem chefes aos montes.
Mas, poucos deles são líderes. A maioria dos que são apenas chefes tenta
esconder a própria incompetência atrás da arrogância e da petulância com que
trata os trabalhadores que comanda.
E quase sempre se servem da inteligência e
da competência dos subordinados para apresentarem aos superiores, resultados
obtidos por outros como se fossem seus. A esse tipo de gente normalmente também
falta caráter.
São chefes que só dão nomes aos
subordinados para o próprio superior quando as coisas sob a sua responsabilidade
saem erradas e precisam “tirar o seu da reta”. Aí, a culpa é dos subordinados,
que não têm chance de se defender. Quando não há reparos a fazer, ficam sozinhos
com os louros. Nunca atribuem o sucesso aos comandados, mas apenas os
fracassos.
Já presenciei muitos chefes entregando
relatórios a superiores como se fossem os seus autores. Ou que quando vão ser
submetidos a questionamentos sobre assuntos de sua responsabilidade fazem
questão de levar a tiracolo o assessor que carrega o piano, mas nunca é
valorizado.
Não é incomum encontrar esse tipo de gente
atribuindo a si mesma expressiva parcela de responsabilidade pelo sucesso do
superior. Gente que adora dizer para os subordinados que apenas ele tem coragem
de marcar posição diante de uma atitude do superior que não foi do seu agrado.
Em verdade, a esse tipo de gente também falta coragem. Sempre está com o “rabo
no meio das pernas”.
Observe esse tipo de gente, que se situa na
faixa que separa quem manda de fato e os que estão na ponta: ri de orelha a
orelha com qualquer piada sem graça contada pelo superior, ainda que seja o
próprio alvo da gozação, e está sempre de cara amarrada para o subordinado.
Quase nunca deixa o comandado expor em detalhes o que pensa. Julga-se
inteligência superior, que não precisa ouvir o que tem a dizer quem está no
degrau debaixo.
Está sempre atrasado, mas adora ser
“rigoroso” com o tempo (dos outros). Muitos não fazem nada, mas vivem botando
defeito no serviço alheio. Até mesmo sobre o que não entende.
Ah! Mas não é só isso. Quase sempre esse
tipo de gente, se homem, se engraça com subordinada. Acha que a chefia
transitória que ocupa lhe dá o direito de também assediar sexualmente. Quase
sempre insinua para o amigo que o visita estar “ficando” com a subordinada que
também encheu os olhos do visitante. Só pra se dizer macho, quando, em verdade,
é um babaca.
Ah! Que capacidade tem esse tipo de gente
para tornar tenso qualquer ambiente de trabalho. De desmotivar aqueles que
deveriam estar estimulados, em prejuízo até mesmo de quem o alçou à condição de
chefe, confiando em sua capacidade de liderar e de transformar em realizações as
suas orientações.
A falta de caráter desse tipo de pessoa é
tamanha que é capaz de sorrir sempre que precisa de um favorzinho pessoal, mas
de ficar carrancuda quando é a outra pessoa quem precisa dela. A menos que o
necessitado do favor seja seu superior. Nesse caso, “é um prazer servi-lo”.
A maioria dessas pessoas não precisa mais
do que três meses para ser esquecida.
Não é menos verdadeiro também que existem
subordinados que querem sombra e água fresca o tempo todo. Não têm compromisso
com suas obrigações e não estão nem aí para o resultado da máquina em que
representam uma peça – às vezes defeituosa. Ignoram que em uma engrenagem toda
peça é importante. Iniciam a semana pensando no que fazer pra enrolar o tempo de
forma que a sexta-feira chegue o mais rápido possível, ignorando que em ambiente
profissional o trabalho é capaz de fazer o relógio andar mais
rápido.
Também não é menos verdadeiro que alguns
comandados ajudam a moldar o chefe, para o bem ou para o mal. Há até quem
“estrague” o chefe com o excesso de puxa-saquismo. E ainda aqueles que sonham
mandar e usam o nome do chefe para ver alguém cumprindo suas próprias ordens,
que jamais vieram de cima.
Há aqueles que exteriorizam imagem irreal
do chefe. Vivem emburrados e a culpa é sempre do chefe. Nunca assumem suas
deficiências, nem procuram melhorar.
Entre as qualidades de um verdadeiro
chefe/líder está a capacidade de distinguir uns e outros, quem não lhe puxa o
saco, mas tem qualidades morais, intelectuais e profissionais e as usa o tempo
todo, e quem lhe puxa-saco, solícito para tudo que não se relaciona com o
trabalho. O verdadeiro chefe/líder é capaz de encontrar valores em cada um de
seus comandados e saber explorá-los. É capaz de não se deixar seduzir pelo
bajulador.
Para todos aqueles que essa crônica puder
levar a um minuto de reflexão, a ajuda do texto de Carlos Baccelli/Irmão José:
“Senhor Jesus, diante do sucesso neste ou naquele empreendimento, não nos deixes
vangloriar-nos dos méritos que não possuímos (...) As oportunidades se alternam
para todos os filhos de Deus, que não privilegia ninguém. Se hoje conquistamos
posição de destaque, é possível que amanhã tornemos à obscuridade. Não nos
deixes, pois, esquecer da transitoriedade de tudo e que sejamos magnânimos para
com todos”.
Um líder entenderá o significado desta
crônica, o simplesmente chefete, não.
“Pensa como pensam os sábios,
mas fala
como falam as pessoas simples”.
(Aristóteles)
(escrito em dezembro de 2009)
***
Ao considerar alguém como lider,
pense antes em que tipo de gente ele lidera.
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