Este espaço é desaconselhável a menores de 21 anos,
porque a história de nossos políticos
pode causar deficiência moral irreversível.

É a vida de quengas disfarçadas de homens públicos; oportunistas que se aproveitam de tudo e roubam sem punição. Uma gente miúda com pose de autoridade respeitável, que engana o povo e dele debocha; vende a consciência e o respeito por si próprios em troca de dinheiro sujo. A maioria só não vende o corpo porque este, além de apodrecido, tem mais de trinta anos... não de idade, mas de vida pública.


terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Fotos históricas alteradas

Assim, Cristina Kirchner,
que  pretende reescrever a história da Argentina,
vai morrer de inveja

 
Livro com fotos originais expõe a
indústria da falsificação histórica criada por Stalin
 -Jaime Klintowitz -

 O original mostra Nikolai Antipov, Stalin, Sergei Kirov e Nikolai Shvernik em Leningrado, em 1926, comemorando a vitória sobre seus adversários no PC. Preso e executado em 1941, Antipov foi o primeiro a sumir quando a foto apareceu no livroHistória da URSS. Shvernik, chefe de Estado até a morte de Stalin, sumiu na republicação numa biografia do ditador. Por fim, quando a foto foi copiada num retrato a óleo, Kirov, o chefe do PC em Leningrado, assassinado provavelmente a mando de Stalin, ficou de fora.

Logo que se tornou todo-poderoso na União Soviética, no final dos anos 20, Josef Stalin precisou retocar um detalhe biográfico particularmente embaraçoso na própria carreira: a modestíssima participação nos grandes acontecimentos de 1917. Com a mesma meticulosidade com que exterminou seus desafetos reais ou imaginários, Stalin se fez incluir no comando da Revolução Russa, mesmo que para isso tenha sido preciso pôr em movimento a mais espantosa indústria de falsificação da História. Não foi bem uma idéia original  reescrever a História é uma atividade a que poderosos de diversos calibres sempre se dedicaram, mas Stalin inovou no ramo da falsificação iconográfica e fez escola na URSS. Retoques, montagens, reenquadramento, nenhum truque foi poupado para ressaltar a figura do ditador ou apagar os vestígios de seus adversários, usando os recursos técnicos disponíveis na época, que hoje nos parecem tão toscos. As imagens manipuladas do período stalinista são bem conhecidas, mas nunca tinham sido destrinchadas do jeito que o inglês David King faz no álbum The Commissar Vanishes (O Comissário Desaparece), lançado neste mês nos Estados Unidos e na Inglaterra. Historiador da fotografia, que passou trinta anos pesquisando o assunto, King reuniu quantidade suficiente de originais para poder contar a verdade simplesmente recapitulando as mentiras.

A foto de Lenin e Stalin em Gorki, em 1922, é falsa. Ainda assim, a máquina de propaganda stalinista a reproduziu em pinturas e esculturas para reafirmar a idéia de Stalin como o herdeiro indicado pelo Pai da Revolução. Na vida real, Lenin temia a ascensão de Stalin, mas estava doente demais para evitá-la.

Durante as três décadas de pesquisa, King reuniu a melhor coleção de fotos históricas originais do período stalinista. Boa parte do material foi coletada na própria União Soviética, trabalho facilitado depois que o comunismo virou fumaça. A maioria, contudo, estava no Ocidente, enviada como material de propaganda soviético e fora do alcance da purificação iconográfica que se seguia a cada expurgo dentro do Partido Comunista. Publicadas lado a lado, original e falsificação traçam um retrato concreto da luta pelo poder deflagrada após a morte de Lenin, em 1924. Os derrotados foram varridos da História soviética, até que, em muitas fotos, restou apenas um único sobrevivente  o próprio Stalin. Seria hilariante, não fosse a realidade sinistra por trás dessas imagens: os comissários do povo que desapareciam das fotos (e daí o nome do livro) também sumiram na vida real, vítimas dos expurgos que atingiram o auge nos anos 30. Dos 1.966 delegados presentes ao Congresso do Partido Comunista de 1934, 1108 foram executados antes da reunião seguinte, cinco anos depois.
O mais conhecido caso de falsificação stalinista, a foto de Lenin discursando para as tropas diante do Teatro Bolshoi, em 1920, foi retocada para retirar de cena Trotsky e Kamenev, inimigos de Stalin, depois assassinados. Os soldados estão de partida para combater o Exército polonês. A foto original foi um ícone soviético enquanto Lenin viveu e Trotsky estava no poder. Nesta versão, os indesejados foram substituídos por alguns degraus de madeira .

Tragédia pessoal - A União Soviética não foi a única ditadura recente a lançar mão da manipulação de imagens ou se aventurar a falsificar cenas históricas inteiras  a China, por exemplo, reencenou a Grande Marcha em benefício dos fotógrafos. O extermínio da velha-guarda bolchevique, com toda a crueldade inerente ao fato de que as vítimas eram os mais dedicados comunistas, também empalidece diante dos números apocalípticos do terror stalinista  estima-se que 13 milhões de camponeses tenham sido mortos durante a coletivização do campo. O sumiço dos caciques vermelhos, contudo, foi mais bem documentado. Cada foto adulterada esconde uma tragédia pessoal em que se conhece a vítima e seu destino. King narra casos de viúvas que, com medo da polícia, rasgaram as fotos do marido executado por ordem de Stalin, de filhos que jamais mencionaram o nome do próprio pai. 

 
Na foto original, ao lado, Lenin e Trotsky, os dois principais líderes bolcheviques, comemoram o segundo aniversário da revolução na Praça Vermelha, em 1919.

Na republicação em 1967, Trotsky e outro líder importante, Lev Kamenev (de barba e boné à esquerda de Lenin), tinham sumido. Também desapareceu Artashes Khalatov (de barba, abaixo de Trotsky), militar executado durante o expurgo do Exército Vermelho em 1937. Na frente, de mãos no bolso, está Maxim Litvinov, ministro das Relações Exteriores de 1930 a 1939. Ele morreu em 1951, provavelmente assassinado pela polícia secreta .

Stalin não ficava satisfeito em apenas matar os adversários no partido, como Lev Kamenev, Grigori Zinoviev ou Leon Trotsky, mas também insistia em eliminá-los da História. Dentro de sua lógica brutal, isso fazia sentido: era uma lição para os sobreviventes e uma reafirmação do poder absoluto ."Quanto maior a calamidade causada por Stalin à nação, mais o arquiteto necessitava ser exaltado", escreve o historiador Stephen F. Cohen, da Universidade Princeton, no prefácio de The Commissar Vanishes. Numa pintura famosa, Stalin desce do trem junto com Lenin para a triunfal recepção na Estação Finlândia, em 1917. Na vida real, o futuro ditador nem sequer estava em Petrogrado naquele dia. As fotos originais permitem saber quem estava mentindo.


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