As bravatas de Dirceu
Tribuna da Imprensa
Gilvan Rocha
O sinistro José Dirceu é pródigo em suas bravatas e a estende ao Partido dos
Trabalhadores quando diz que seus militantes não se acovardam. Conhecemos o PT
desde os primórdios de sua fundação. Conhecemos vários de seus militantes, deles
até dirigentes, que são meros poltrões, verdadeiros répteis.
“No planalto e na planície…”
O dito senhor, quando foi expurgado do governo Lula, teve a oportunidade de
dizer que estava apto a lutar tanto no planalto quanto na planície. Tratava-se
de pura bravata, pois o seu currículo
o denuncia como um ser rastejante à sombra do stalinismo. Em Cuba, viveu às
expensas do fidelismo e, em troca do amparo, retribuía com sobejas bajulações e
o silêncio cúmplice diante das atrocidades liberticidas praticadas em nome do
socialismo. Nunca moveu a mais leve crítica aos estados policiais que se
abrigavam sob o indevido rótulo de países comunistas.
Lembramos muito bem, quando hospedado em nossa casa, ele dizia: “O PT precisa
aprender a fazer política”. Não pretendia com isso que a agremiação se esmerasse
em levar adiante um projeto de natureza socialista. O seu discurso tinha outro
viés, que consistia em buscar chegar ao governo a qualquer custo. Dessa forma,
foi ele o grande articulador e operador do infame processo de capitulação do
partido.
A vergonhosa capitulação petista tem o seu ponto mais alto quando Lula,
Delúbio e Dirceu procuram o capitão de indústria e membro do grande capital,
José Alencar, para formar a chapa petista ocupando a candidatura a
vice-presidente. Para selar essa esdrúxula aliança entre capital e trabalho, o
PT teria que desembolsar a astronômica cifra de dez milhões de reais, doados ao
partido do senhor José Alencar. Dessa operação participaram, além dos três
petistas já citados, o próprio José Alencar e Valdemar Costa Neto.
Estranhíssima negociação! Primeiro, cabe perguntar, de onde o PT haveria
tirado tanto dinheiro?
Será que essa fortuna tinha as manchas de sangue do ex-prefeito de Santo André,
Celso Daniel? Ou teria a generosa contribuição dos corruptos de Ribeirão Preto?
Seriam esses recursos provindos das máquinas sindicais sob o controle da CUT?
Por fim, seria o somatório de diversas fontes escusas?
CAPITAL E TRABALHO
Além desses questionamentos, outra curiosidade faz-se patente, pela sua
singularidade histórica, uma vez que se assistia a um fato inusitado, qual seja,
o do trabalho comprar
o capital.
A FAMOSA CARTA
O passo seguinte, no processo de capitulação petista operado pelo senhor
Dirceu, se dá com a famosa “Carta ao Povo Brasileiro”, que não passa de uma
carta dirigida ao grande capital, comprometendo-se em respeitar os interesses do
capitalismo e anunciar o indiscutível fato de que o leão era mansinho e,
portanto, não seria justo que a burguesia dele tivesse medo.
Outra parte das negociações consistiu no compromisso do lulismo em, eleito,
nomear para o Banco Central alguém da confiança do capital financeiro,
tanto do Brasil como além fronteira. Cabe ressaltar que esta promessa foi
cumprida com bastante zelo. Consumada a total e absoluta capitulação, vieram as
eleições presidenciais de 2002, o antigo metalúrgico, Lula da Silva, se elegeu
e, logo, sob a eficaz articulação do senhor José Dirceu, tratou de levar a cabo
uma nova etapa de seu discurso. Promoveu algumas ações políticas no rumo da
construção de uma forte aliança do petismo com o que existia de pior no cenário
político nacional, representado pelas figuras de José Sarney, Jader Barbalho,
Renan Calheiros, Romero Jucá, Michel Temer e o mais emblemático dos corruptos,
Paulo Maluf.
Era, portanto, esse fazer político que Dirceu dizia precisarmos aprender.
Enganam-se os que, por pura ingenuidade, dizem: o PT, quando chegou ao poder,
descaracterizou-se, de denunciante da corrupção passou a ser praticante. Essa
colocação é dotada de dois grandes equívocos: não é verdade que o PT chegou ao
poder, ele chegou tão somente ao governo, e há uma diferença profunda entre
governo e poder.
Por seu lado, o PT não mudou, após chegar ao governo. O seu processo de
descaracterização é bem anterior e, para que ele se consumasse, foi
indispensável a participação desse “valente” senhor que responde pelo nome de
José Dirceu. Ele hoje é acusado de chefe da quadrilha do mensalão.
Em razão desse quadro, pouco valor têm as suas recentes bravatas, quando
afirma que se disporá a enfrentar as consequências do julgamento do mensalão com
a devida galhardia e proclama que não deixará o Brasil, mesmo com a
possibilidade de ser preso.
Gilvan Rocha é militante socialista e
membro
do Centro de Atividades e Estudos Políticos.
Blog: www.gilvanrocha.blogspot.com
do Centro de Atividades e Estudos Políticos.
Blog: www.gilvanrocha.blogspot.com
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